quinta-feira, outubro 22

João.

Há muito pra fazer e há tanto pra brincar,
mas o tempo espera.
Dorme, meu amor, que é cedo ainda.
Há castelos, bolas e bonecos,
sim, a vida é doce.
Dorme, pequenino, dorme pra nos fazer sonhar.
Ja já, aprontaremos em qualquer faz-de-conta,
da vida ou dos palcos.
De tudo o que esperamos,
você foi mais:
a obra de arte mais linda já vista;
a luz mais colorida da estreia.
E esses olhos que trazem o azul do céu e mar,
recebem uma canção que te nina, João.
Nina pra te fazer sonhar
e sorrir enquanto dorme.
E te olhar assim,
tão grande e tão pequenino,
na nossa frente,
faz o bem que só a paz faz.

Bem vindo ao mundo.

domingo, outubro 18

o que fica depois do vendaval.

De tudo, fica a lição que é hora de quietude. Calar o peito faz o riso (os risos) voltar (voltarem). Se em coro ou não, só o tempo diz. Sei calar e quando o faço, é pra valer. De tudo, vejo que se temos boca pra falar é porque a comunicação funciona melhor do que quando com os dedos. Bem que me falaram para desconfiar dos e-mails... só Deus sabe por quais caminhos aquelas palavrinhas passam enquanto percorrem os fios: elas saem de um lugar com doçura e são recebidas com rispidez (não importa se é de Norte a Sul ou se é o oposto). E, ainda assim, elas não te dão o direito a teclar um delete e começar tudo de novo, a fazer diferente e falar de outra forma, cuidando do tom para que você consiga ser clara. De tudo, ficam as palavras a rondar a cabeça. Não as palavras tidas como esclarecedoras, mas aquelas colocadas como explicativas que, não tenho dúvidas, são as mais sinceras: "não é nada disso", "não quis dizer isso", "não, não, não", "eu pensei errado"... De tudo, ficam, agora, as cicatrizes, os silêncios e os desejos que tudo fique bem.


[De tudo, fica um sentimento, um aperto e um nó que tá cá na goela, que se nota como tal, mas que, simplesmente, não sai mais. Não por não querer, mas por não saber. Fica o nó de aperto e dor pelo carinho não dito, pela explicação mal colocada e pelo sentimento reprimido.]

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É uma pausa maior, que faz parar um pouquinho mais. Muitas vezes indica que é hora de mudar o tema, as palavras, o assunto. Mas, nem sempre, é um fim. E é aí que tá a sua forte delicadeza: no poder tamanho que um ponto tem. Gosto deles, ainda mais que das vírgulas. Não por terminar tudo, mas por carregar o maniqueísmo que só ele saberia.

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Ela nasce quando a mão dá uma escorregadinha no papel a fim de informar que ali é a hora de parar, respirar, refletir para, então seguir.
Gosto da danada da vírgula que consegue dar a velocidade adequada ao percurso mostrando que, do menor bilhete ao maior romance, é preciso
parar, respirar, refletir para, então, seguir.

!

Falam muito do meu sorriso. Não sei se por ele ser constante ou aberto demais. Ele, de fato, é meio frouxo e expansivo. Mas falso, nunca. Sou, como todos, a soma de tudo que vivi e, após levantar dos tropeços e dores (que não foram poucas pros vinte e poucos que carrego), pude sentir o quão importante é sempre manter a mente quieta e o coração tranquilo. Falo, muitas vezes, com riso no rosto e cara lavada e é disso que gosto. Quando não, me fecho e me envolvo no meu mundo branco e preto - o que quebra a imagem que muitos constroem de mim e faz com que me vejam como expansiva, abertinha, fútil e superficial -. Intensidade talvez seja o meu mal. Eu rio e choro demais por muito pouco. E eu gosto. A indiferença passa longe, o que às vezes faz doer mais do que o necessário. Nunca aprendi a ligar o "foda-se". E nem quero. Penso eu, com meus poucos vinte, que carregar no corpo as marcas do caminho (com os risos e lágrimas, com as luzes e sombras, com o bom e o ruim) faz com que você melhore. Isso só não pode pesar. Eu não consigo deixar que nada passe despercebido e sei que passo despercebida por muita coisa. Mas, também, consigo que pouquíssima coisa me tire a leveza do vento que me conduz. E ser assim, um pouco desprendida de qualquer manual de instrução e sentindo mais o frio na barriga do que muitos, me faz entrar em um contexto de construção e desconstrução contínua para muitos. Pois sei que muitas vezes faço algo que faz parecer uma coisa, mas que foi outra. Eu não faço questão de provar quem sou e muito menos que preciso provar nada pra ninguém, mas o riso cala quando não deveria só por andar de mãos dadas com um coração que sente demais.

?

Ao contrário de Clarice, não estou cansada, só estou triste. É um aperto que vem do sufoco de se saber incompreendida ou da terrível frustração que sinto comigo mesma sempre que erro. Não lido bem com o pensamento que eu não me fiz entender. O resultado é esse: eu olhar pro espelho e enxergar o peito espremer até chegar uma hora e um dado instante em que não dá mais pra saber o que é. Eu e meus por quês a me inquietar. Eu sei que não adianta buscar respostas, pois elas virão na hora certa. E, no fundo no fundo, eu sei que não é nada.

(talvez isso piore tudo: o nada a incomodar. por nada)

sexta-feira, outubro 16

gosto dos escritos do cfa.

"E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará. A moça - que não era Capitu, mas também tem olhos de ressaca - levanta e segue em frente. Não por ser forte, e sim pelo contrário...por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência. E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo."


(Caio F. Abreu)

quinta-feira, outubro 15

mulherzinha.

Se existe alguém que pode falar o que vou falar para você, sou eu. Então, por favor, tenha a humildade de admitir que sei o que estou falando. Pois o que eu te direi é duro, mas poderá te fazer um bem enorme.

Chega. Chega de se comportar assim. Como se estivesse lutando pelo posto de rainha da bateria. De Miss Maravilha do Mundo. Basta de ataques, dessa competitividade suburbana eu sou a melhor, eu sou a mais alta, eu sou a mais gostosa do pedaço. Ninguém tá ligando a mínima se você faz isso ou aquilo. Ou se você é assim porque ainda não passa de uma menininha que quer ser mais perfeita do que a mãe, conquistar o amor do pai e ser a primeira da classe. Esse teu afã psicopata de vencer todas as paradas só te deixa ridícula. E me faz querer usar um termo que odeio: coisa de mulherzinha. Mulherzinha é que tem essa mania de estar sempre desconfiada das amigas, porque todas teriam inveja do seu corpão, do seu cabelão e da falta dele. Lamento informar, querida, que ninguém sente inveja de você... Relaxa, ninguém está a fim de ser você. Tente, portanto, ser você com mais leveza.

Chega, tá? De azucrinar os outros com essa sua boca-genital lambuzada de gloss, cuspindo baixos-clichês, simulando uma modernidade que você não tem. Nunca mais caia no ridículo de fazer "sexo casual" com ninguém, homem, mulher, velho, novo, casado ou solteiro, porque todo mundo já sabe que você finge tudo. Que goza, que não se sente fácil, que não liga quando os caras não telefonam no dia seguinte. Seja honesta uma vez na vida: confesse. Que você não é nada tão wild quanto se vende. Que não sabe falar tão bem inglês assim. E enfim você terá alguma paz, pois se reconhece humana, e não a barbie boba alternativa que você procura ser. Acredite: idiotice só te faz charmosa para os cafajestes. Se continuar assim, nunca vai aparecer aquele cara bacana que você gostaria que aparecesse; para lutar por você, até te conquistar, e destruir essa tua linda silhueta com uma gestação de 15 quilos. É triste, amiga Mulherzinha, mas você terá que abrir mão da máscara de rímel que cobre a sua verdade


(fernanda young)

como serva.

Sabe aquela bagunça do teu quarto?
Eu resolvo, se você quiser.
Posso passar tuas blusas e vestidos
e organizar cada um deles no teu armário apertado.
Separo as roupas alegres de verão
daquelas que devem ser usadas no frio inverno.
Amarro o teu sapato, não quero te ver tropeçar.
Te quero exalando perfume por aí.
Vou comprar um guarda-chuva novo pra você não se molhar se chover e o carro quebrar.
Na hora de dormir, posso te aquecer com o meu cobertor.
Ou fazer do meu corpo uma manta aquecida.
Assim, você pode sentir o calor que sinto ao lado teu.
Na primavera eu quero te dar flores coloridas e perfumadas.
No outono, varrer a nossa casa. Tirando as folhas secas.
Na casa limpa, botarei almofadas no chão da varanda
E te levarei comidinhas pra depois do amor.
Deitarei ao teu lado para olharmos as estrelas.
Os meus olhos querem refletir os teus desejos.
E, quando for hora de calar, farei.
Sofrendo, darei tchau quando formos pro trabalho.
Não me envergonharei de implorar o seu amor.
Como esmola.
Guardo as fotografias.
Quero as poesias, as estações, as flores, os vestidos.


quarta-feira, outubro 14

brinde.

Pra que namorar com a dor se você pode beber a taça até o fim? Sai da casca leve, leve, leve. Sai e gira por aí livre de todo esse rancor. Brinda e bebe. Ei, você, voa por ai e vai ser feliz. Vai.

alma é música.

Toda alma é uma música que se toca. Eu quero ser violonista, mas talvez eu fracasse por não tentar. Enquanto isso, posso fazer música com as palavras. Aquele que agora lê, se sentir um movimento na alma, se houver algo que reverbere, é porque aquilo nos fez iguais. Quando isso acontece, eu sei que não estou só. É gostoso dançar acompanhada.

resposta.

Se fosse agradável aos ouvidos que me rodeiam, eu cantaria minhas alegrias e tristeza. Como não o é, eu escrevo. Escrevo aqui, plagiando uma querida, "minhas alegrias e outros sentimentos menos nobres". A tristeza é uma fiel companheira daqueles que gostam de registrar as palavras.

(Mas não tenha dó, não pense que sou ou estou rodeada de dor.
Pode ser tudo inventado ou copiado do sentimento de alguém.
Eu posso falar de tristeza enquanto o peito pula de alegria.)

Escrever algo é eternizar o que se sente. Uns fazem isso para mostrar ao mundo o que se passa no interior e outros, para relerem um tempo depois e sentir novamente tudo o que havia nas entrelinhas. Escrever e publicar é fazer com que algo fique gravado em pedras. A palavra lançada não volta e isso me atrái. Gosto da idéia de eternizar o que sinto ou penso. Talvez assim o constante medo de perder o que foi vivido diminua.

O meu blog é vazio. Eu divido as visitas com alguns fantasmas que aumentam a contagem, mas que nunca se pronunciam. E ainda assim é gostoso de escrever, registrar, ensaiar, falar balela, mandar recado, responder, dar direta, indireta, se declarar e pontuar as atitudes e sentimentos no meio de palavras soltas.

Houve vírgulas no caminho. Muitas até. Houve um tantinho de exclamações e interrogações. Sou transparente e nua, tudo que sinto, sou e quero registro para ser lido, para que saibam. É como a tatuagem que tenho, o fiz para registrar visualmente algo que se passa dentro, no meio e em baixo. Para se fazer ver o que os olhos não conseguem. Escrevo mal, feio e sem ordem não pra cansar você, meu leitor paciente, mas por não fazer questão de bancar a ordenada mentalmente. Não faço questão de cuidar de colocar o que não sou para que enxerguem uma Carol que não é essa. Escrevo "para que te lembres quando eu me for". Escrevo, registro e talvez o vento leve essas palavras por aí, pra qualquer um.

Eu queria ter o dom de fazer Haicais.

não está no Aurélio

Hoje, na Yoga, pensei que a aula fora preparada pra mim. Por um segundo, me senti nua, como se a professora tivesse invadido a minha mente. Ela falou sobre YAMAS e alguns significados. Eu pensava muito neles sem saber que na linguagem 'yoguenta' (termo que acostumei a usar) eles se chamavam assim. Desejo o mesmo pra você :)

1) Ahimsa: respeite a sua natureza, sentimentos e pensamentos. faça por onde irradiar a paz interna e na vida dos outros.

2) Satya: a busca contínua pela verdade que o seu corpo dita e não aquela que se compra por ai.

3) Asteya: reconheça o que é seu, manifeste e se alegre nisso.

4) Brahmacharya: respeite a energia que lhe cabe e lhe é enviada. condicione o que envia para o bem comum.

5) Aparigraha: não importa o que os outros dizem, pensam ou fazem. o fundamental mesmo é seguir o próprio caminho sempre se preocupando em ser luz para os outros.


é, sempre se preocupando em ser luz para os outros.

terça-feira, outubro 13

sobre portas e amigos.

Ontem a Camila riu de mim quando falei da melhor amiga da academia e do Fisk. Ela achou o termo engraçado e eu ri junto. Depois eu e Camila nos falamos sobre portas e amigos: Virar amiga dos amigos dos seus é um processo rápido e natural. Você já chega de porta aberta sendo convidado pra entrar. Outro dia, Camila me apresentou à Rafaella. Antes, claro, ela já havia relatado várias histórias das duas, o que fez crescer a vontade. Quando demos os dois beijinhos da apresentação já nos queríamos. Pois a Rafa compra as escolhas da Camila como se fossem dela. E eu também. Assim foi com a Elda, que quando esteve com a Camila soltou um "finalmente!" - como quem esperava isso havia muito -. Amigos quando são amigos compram os amigos e as escolhas dos outros. Assim eu penso. Ou, se você não concorda, você solta um "gostei não" limpo e claro.
Depois eu falei pra Camila que quando coloco o termo "melhor amigo" acompanhado por um lugar ou uma época, significa que, por falta de caminhos em comum, ele não chega a ser o amigo que você carrega pra vida e que abre a geladeira da sua casa. Desses eu tenho 9, que são pessoas que após entrarem na sua vida, você fecha a porta para que elas não saiam mais. Não. Eu falo de algumas pessoas com as quais me encontrei em mesas de bar, em salas de aula ou por ai, nos elevadores da vida. São pessoas que o contato é quase nada e a saudade pelo que não foi vivido é constante. São pessoas "legais quiçó" e que eu gostaria de compartilhar com Camila. São pessoas que não vieram pra ficar porque talvez essa permanência as tornaria menos especiais ou quebrasse um pouco a gostosura do momento. Eu queria que Camila conhecesse Bruno, meu melhor amigo de internet que fala com a calma dos amantes artistas e me entende tão bem sem nunca ter me visto. Queria que Camila visse o respeito de Bruno e o tivesse por perto pra papo furado. Queria ainda que Camila conhecesse mais de Elis, minha melhor amiga do grupo dos professores queridos. Camila ia gostar da inteligência de Elis e elas iam falar sobre filmes e teorias. Elas iam se entender também porque as duas são iguais, ou seja, diferentes do que se vê por aí. Inteligentes como elas só. Queria ainda que Camila conhecesse Lua, a dona dos escritos que relatei pra ela esses dias. Lua é minha melhor amiga da UNIFOR, junto com Elda que já conhece Camila. Lua é tão doce e linda que só vendo. Queria, por fim, que Camila tivesse as horas gostosas da vida sem pressa ao lado de Mari, minha melhor amiga da Fa7 que é tão engraçada, correta e sábia. Quero que Camila traga os queridos dela e eu quero trazer os meus, pra cada vez mais a mesa do bar ficar frequentada não pelos dela ou pelos meus, mas pelos nossos. E vamos que vamos com melhores amigos da vida ou dos instantes que se quer guardar num baú pra nunca esquecer. Mas a porta tá aberta para os novos de Camila e de todos os escolhidos dos queridos meus. É preciso apenas que eles queiram entrar.

sobre máscaras e sorrisos.

O que eu vejo não é o que você vê.

Gosto de máscaras a ponto de tatuar na pele.

Não uma tatuagem com fim de esconder cicatrizes,

mas pra lembrar algo. Um sorriso de arte, talvez.

O que olho não é o que você olha.

E assim vamos com a vida a se transformar enquanto piscamos os olhos.

É assim na mágica dos aniversários infantis e é assim na lagarta que vira borboleta.

A borboleta só quer ser vista como ela mesma, sem passado.

O inseto mostra que a melhor máscara é sempre a própria pele.

Porque essa não cái, essa tá na essência.

É agoniante presenciar o descobrimento de bonecas russas,

que saem umas das outras

toda hora, toda hora, toda hora.

E se fazem escondidas nelas mesmas.

Muitos, quando enxergam esse dinamismo e resolvem tirar as máscaras,

se dão conta de que elas já estão pregadas na cara.


quinta-feira, outubro 8

para o feriado que vai chegar.

Segunda próxima é o dia de alguma santa e por isso é necessário parar atividades. Ai, Brasil. Fala, pelo menos, pro teu povo que o feriado não é por conta do dia das crianças. Hoje, quinta de manhã, as pessoas já começam a sentir a folga da segunda livre que virá. Já se apressam pra não perder um segundo de felicidade e de curtição. Correm sem se preocupar com a direção, mas apenas satisfeitos com a sensação de não se notarem parados. Planejam viagens, imaginam lugares, se ligam, se "emiessienizam" e escolhem a melhor roupa pra ganhar a cidade. O dia das crianças pede pureza e uma sexta lotada e barulhenta com pessoas falando, bebendo, brindando, sem parar, sem parar, sem parar, sem parar. É preciso ser feliz antes que a segunda chegue e termine. E vão, correndo, levados pelo vento pra beber, comer, pagar a conta, sentir ressaca e encher os bares com os seus sentimentos, muitas vezes, vazios.

sem título.

"Às vezes eu amo tanto que construo castelos. Às vezes eu amo tanto que tiro férias de mim mesma e embarco num tour pro inferno. Em homenagem a toda distância e desejo, mora em mim que eu deixo as portas sempre abertas."

terça-feira, outubro 6

palavras que falam por mim

Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento

(CL)

quarta-feira, setembro 30

palavras que falam por mim

Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se trata de intuição, mas de simples infantilidade. Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. Há um perigo: se reflito demais, deixo de agir. E muitas vezes prova-se depois que eu deveria ter agido. Estou num impasse. Quero melhorar e não sei como. Sob o impacto de um impulso, já fiz bem a algumas pessoas. E, às vezes, ter sido impulsiva me machuca muito. E mais: Nem sempre os meus impulsos são de boa origem. Vêm, por exemplo, da cólera. Essa cólera às vezes deveria ser desprezada; outras, como me disse uma amiga a meu respeito, são: cólera sagrada. Às vezes minha bondade é fraqueza, às vezes ela é benéfica a alguém ou a mim mesma. Às vezes restringir o impulso me anula e me deprime, às vezes restringi-lo dá-me uma sensação de força interna. Que farei então? Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei.

(Clarice Lispector)

segunda-feira, setembro 28

ferida

Levei um tapa na cara com gosto e com força pra ali aprender que a ferida causada por ti dói mais do que a ferida que te causam.

segunda-feira, setembro 21

sobre os sentidos

Foi como se eu estivesse ausente e fora dos fatos que um dia passaram por mim. Esqueci ou ignorei? Não sei. Só tenho consciência que meu mundo parou e é preciso sacudir a poeira. Uns dirão que é bobagem. Outros, entenderão. Mas, da nossa dor, só a gente sabe. Entrei na montanha russa e fui do riso ao choro em segundos. O estômago trancado a relembrar as dores passadas. E eu aqui, transtornada, impotente, sem saber ordenar as imagens do silêncio, da ausência, dos apelidos, das bebedeiras, dos beijos, do que passou. Imagens que lembro com dor por saber que não tive espaço em nenhuma delas. Você diz que sim, que sempre fui a única. Você disse e diz, mas não provou. Volto ao parque e a vida vira roda-gigante. Todo mundo no mesmo eixo a girar. A montanha russa desce veloz, a roda-gigante sobe lentamente. E eu parada, de fora, olhando, sem entender, a doer. Através de palavras veio a dor. Palavras ditas em segredo e palavras publicadas em blogs para que todos pudessem ler. Para que leiam sobre o desejo que um outro olhar tem do que é meu. Palavras mentirosas que diz ser dela o que é meu. Nesse contexto, a relação de tempo e espaço não existe. Não adianta posicionar as datas, os lugares e os fatos. A dor do amor não tem dia e nem hora. Ela existe independente de tudo, independente do outro e até mesmo independente de você. Faço um grande esforço para não doer, pra ser racional, mas o amor é assim, é burro, é sofrido. Ouvi a vida toda Vinícius ao invés de Menudos. Meu amor sempre foi adulto, pessimista: "Todo amor só é bem grande se for triste" - aprendi. Eu gosto das amizades, gosto do chopp, gosto até do cigarro num dado instante. Gosto da vida em paz, mesmo me submetendo a comportamentos duvidosos. Gosto dos detalhes. Gosto do íntimo. Mas não gosto que falem de nada disso. Ainda que os amigos sejam amigos, as mulheres são mulheres e os beijos são beijos. Tudo que escapa a essa matemática, foge da cerca que separa o saudável do dolorido. É sempre hora de poupar a ternura e o verbo. É sempre tempo de mudar o foco e fazer um macro para que a fotografia tenha o tom do porto. Fazia tempo que doía, que o chopp descia e me enchia de vontade de arrancar de você esse silêncio que me matava e me fazia perguntar se foi, se não foi, por que é e por que não muda. As palavras vieram e agora ficarão aqui, feito registro em pedra. Mas não há culpadas. Nem eu, nem você e nem ela. Não há mágoas. Há só dor que eu sei que passa. Já tive outras e com elas aprendi que tudo passa. O bom e o ruim. Nesse momento, claro, tapo os ouvidos para não ouví-lo cantar "tristeza não tem fim. Felicidade, sim".

mãos

Quero essa mão em mim. Mão que carrega o elo materializado e dourado dessa loucura deliciosa que há 8 começamos. A segurar a minha no momento de prazer, que os dedos se contraem e ensaiam um nó. Quero o laço necessário que faz o medo sumir na hora de cruzar a ponte. Ai, a sua mão a percorrer o meu corpo e me faz arrepiar, ceder, deitar e amar. Mão de chiclete, como dizem. Mão que gruda na minha e me faz implorar que nunca ela tente tatear outra, que ela esqueça da textura das mãos que já tocou e lembre, queira, deseje somente a minha. Mão que cultiva o elo dourado na direita, mas que anseia por exibir por aí, para os olhares comemorativos e invejosos, o ouro na esquerda.

ouvidos

O teu som é melodia para os meus ouvidos. Se eu deito, ele vira canção de ninar. Me eleva e leva o amor aonde ele sempre merece estar. E se tu deitas ao meu lado ele vira máquina que seduz. Tua voz tem cheiro de prazer, de desejo, de querer, de posse. Tua voz chamando meu nome é música que tem o tom do querer. É música, é vento, é tom e melodia. Me chama que eu sigo sempre cantando esse querer que tenho por ti desde o 21 do mês primeiro.

nariz

Falar do teu cheiro e do prazer que ele me dá é redundante. Falar do cheiro da tua boca, do teu corpo e da tua alma faz com que eu os sinta perto de mim. Mesmo com alguns longos e muitos metros a nos separar. Quero te sentir e te cheirar até esse cheiro me penetrar e me embriagar. Quero te cheirar como droga, com dependência. Quero te cheirar até me sentir tua e sentir que te tenho sem passado, só com o presente a nos amar e o futuro a nos esperar. Quero o cheiro de coisa boa que você me prometeu nas noites de amor. Quero o cheiro de estarmos só, sem ninguém a te desejar. Quero o cheiro da certeza desse nosso amor, desse nosso querer. Quero a certeza, mesmo sabendo que a incerteza que brota sempre que ruídos aparecem é uma das coisas que mais me faz tua. Quero o teu nariz, tão afilado, a apontar o caminho que nos espera. Quero o teu nariz a tentar driblar o meu no momento do beijo. Beijo de seda com nariz de taboca.

boca

'Eu te amo'
'Eu também'
'Eu te quero'
'Eu te quero muito'
'Assim você me mata'
'Vem'
'Vou'
'Vamos'

Tantas palavras a circular o coração. Palavras que cheiram a riso e lágrima. Palavras que tranquilizam e envolvem. Palavras que, quando interrompidas pelo teu silêncio, encantam ainda mais. E, ansiosamente, faz a minha boca esperar pelo beijo teu. Beijo doce, delicado. Beijo que faz parar o tempo e me joga nos teus braços. Tua boca na minha, teu sorriso no meu, tua voz e a minha cantando em uníssono a nossa canção. Boca que enxerga o quanto o amor reserva as metades certas para juntá-las. Metade silêncio, metade palavras. Um só olhar. Um só amor.

olhos

Me dê a tua mão e deixe o meu peito transbordar de sossego. Eu te quero mais do que posso explicar. Essa imensidão de sentimento me inquieta. Logo eu, que "sozinha me bastava"... Mas me atrái. Fecho os olhos e vejo os teus na minha frente a me olhar. Olhar que penetra, que invade, que me desnuda. Olhar que me faz querer fechar os olhos pro mundo e pular de cabeça nessa água de amor, de desejo. Olhinhos puxados como do outro lado do mundo. Olhinhos que são gigantes, alucinantes. Meus olhos, minha janela, janela da minha alma.

domingo, setembro 20


passa a nuvem negra
e larga o dia
e vê se leva o mal
que me
arr a sou.

sábado, junho 27

sobre partir II

por qual razão permitimos a presença do que nos faz mal?

terça-feira, junho 9

sobre partir

seque a lágrima, sorria, me dê as mãos, me ame.
me ame como só você sabe.
e veja, nos meus olhos, num dia de sol ou nas cores da lua,
que aonde quer que eu vá, eu levo você.

somos um nó.

vou com você.
vou por você.
vôo com você.

sobre aparências


se olhe no espelho quando quiser me enxergar.
você não sou eu, é verdade.
mas eu sou você.
ali, no seu reflexo, estarei lhe amando, olhando, admirando e querendo.
sempre.
ali, no reflexo, estarei desejando que você perceba
que as coisas são simples, são pequenas.
as coisas são diferentes.
e eu não sou o que muitas horas eu reflito.

espelhos engordam, muitas vezes.


deixa eu poder reclamar 
o tempo passado sem te desfrutar?

amor,

virei vocativo pro amor.
ele me chamou.
me levou até ti.
me levou ao teu beijo, cheiro, peito.
me levou e, em ti, me largou.

o amor virou vocativo pra mim.

basta que eu o chame para te ter.
teu nome é amor, meu amor.
é teu e meu esse amor.
o amor nos chamou.
é meu e teu esse amor.
meu, teu, nosso.
e só.

amor não é vocativo.