segunda-feira, setembro 21

sobre os sentidos

Foi como se eu estivesse ausente e fora dos fatos que um dia passaram por mim. Esqueci ou ignorei? Não sei. Só tenho consciência que meu mundo parou e é preciso sacudir a poeira. Uns dirão que é bobagem. Outros, entenderão. Mas, da nossa dor, só a gente sabe. Entrei na montanha russa e fui do riso ao choro em segundos. O estômago trancado a relembrar as dores passadas. E eu aqui, transtornada, impotente, sem saber ordenar as imagens do silêncio, da ausência, dos apelidos, das bebedeiras, dos beijos, do que passou. Imagens que lembro com dor por saber que não tive espaço em nenhuma delas. Você diz que sim, que sempre fui a única. Você disse e diz, mas não provou. Volto ao parque e a vida vira roda-gigante. Todo mundo no mesmo eixo a girar. A montanha russa desce veloz, a roda-gigante sobe lentamente. E eu parada, de fora, olhando, sem entender, a doer. Através de palavras veio a dor. Palavras ditas em segredo e palavras publicadas em blogs para que todos pudessem ler. Para que leiam sobre o desejo que um outro olhar tem do que é meu. Palavras mentirosas que diz ser dela o que é meu. Nesse contexto, a relação de tempo e espaço não existe. Não adianta posicionar as datas, os lugares e os fatos. A dor do amor não tem dia e nem hora. Ela existe independente de tudo, independente do outro e até mesmo independente de você. Faço um grande esforço para não doer, pra ser racional, mas o amor é assim, é burro, é sofrido. Ouvi a vida toda Vinícius ao invés de Menudos. Meu amor sempre foi adulto, pessimista: "Todo amor só é bem grande se for triste" - aprendi. Eu gosto das amizades, gosto do chopp, gosto até do cigarro num dado instante. Gosto da vida em paz, mesmo me submetendo a comportamentos duvidosos. Gosto dos detalhes. Gosto do íntimo. Mas não gosto que falem de nada disso. Ainda que os amigos sejam amigos, as mulheres são mulheres e os beijos são beijos. Tudo que escapa a essa matemática, foge da cerca que separa o saudável do dolorido. É sempre hora de poupar a ternura e o verbo. É sempre tempo de mudar o foco e fazer um macro para que a fotografia tenha o tom do porto. Fazia tempo que doía, que o chopp descia e me enchia de vontade de arrancar de você esse silêncio que me matava e me fazia perguntar se foi, se não foi, por que é e por que não muda. As palavras vieram e agora ficarão aqui, feito registro em pedra. Mas não há culpadas. Nem eu, nem você e nem ela. Não há mágoas. Há só dor que eu sei que passa. Já tive outras e com elas aprendi que tudo passa. O bom e o ruim. Nesse momento, claro, tapo os ouvidos para não ouví-lo cantar "tristeza não tem fim. Felicidade, sim".

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