terça-feira, setembro 30

The core of mans' spirit comes from new experiences.
If we admit that human life can be ruled by reason, then all possibility of life is destroyed.
I'm going to paraphrase Thoreau here: rather than love, than money, than faith, than fame, than fairness. Give me truth.
I read somewhere how important it is in life not necessarily to be strong, but to feel strong.

quarta-feira, setembro 24

culpa da.

eu não sou a culpada.
muito menos você.
despertador é uma praga.
erva daninha, não.
sou da noite.
não tenho medo de bicho papão.
nem de ladrão.
de despertador, sim.
por isso, prefiro partir
a continuar escrevendo
essas tolas frases curtas.
frases que não têm ar de paixão,
nem de inteligência
e muito menos de algo interessante.
frase que, quando amontoadas,
podem até dar um ar de palavras elaboradas
a fim de parecerem, ocasionalmente, legais.
mas elas não passam de pura tolice.

não ter pra quem escrever resulta
em registros tão
ridículos
que parecem obra dos escritores de cartas de amor.

recônditos

sem ti, minto esses recônditos,
sentimentos que inexistem.

porque não querer te ter.

te quero feito fantasia doce.
doce que lambuza,
embriaga
e faz delirar de prazer,
por ser tão delicioso.
é, te quero assim,
mas sabendo sempre que
fantasia e realização nunca vão dar as mãos.
onde uma começa, a outra acaba.
te ter acabaria com ela e eu não teria mais em quem pensar.

sábado, junho 14

volta, tempo.

só tenho a idéia de falar algo, quando a hora certa já passou. escuto sorrindo e, muitas vezes, fazendo parecer que não me importo, que não reparo, que não entendo. mas não. ali, fico cobrando de mim mesma respostas instantâneas. mas os instantes se desencontram nos caminhos confusos da minha cabeça. eu, que não sofro de ansiedade, vergonha ou medo, ainda assim, calo quando devo falar. simplesmente, porque as palavras me somem. ai, horas depois, dias depois, noites depois, me vem como inspiração tardia a palavra que me faltou. então, esse silêncio carregado da idéia que eu deveria ter tido naquela hora, com aquela pessoa, naquela situação, me tortura por remoer o que não foi.

volta, tempo.

sossega, coração, não desesperes

sossega, coração!
não desesperes!
talvez um dia, para além dos dias,
encontres o que queres porque o queres.
então, livre de falsas nostalgias,
atingirás a perfeição de seres.
mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
pobre esperança a de existir somente!
como quem passa a mão pelo cabelo
e em si mesmo se sente diferente,
como faz mal ao sonho o concebê-lo!
sossega, coração, contudo!
dorme!
o sossego não quer razão nem causa.
quer só a noite plácida e enorme,
a grande, universal, solene pausa
antes que tudo em tudo se transforme.




(fernando Pessoa)

sábado, maio 24

e tudo mudou

O rouge virou blush
O pó-de-arroz virou pó-compacto
O brilho virou gloss

O rímel virou máscara incolor
A Lycra virou stretch
Anabela virou plataforma
O corpete virou porta-seios
Que virou sutiã
Que virou lib
Que virou silicone

A peruca virou aplique, interlace, megahair, alongamento
A escova virou chapinha
"Problemas de moça" viraram TPM
Confete virou MM

A crise de nervos virou estresse
A chita virou viscose.
A purpurina virou gliter
A brilhantina virou mousse

Os halteres viraram bomba
A ergométrica virou spinning
A tanga virou fio dental
E o fio dental virou anti-séptico bucal

Ninguém mais vê...

Ping-Pong virou Babaloo
O a-la-carte virou self-service

A tristeza, depressão
O espaguete virou Miojo pronto
A paquera virou pegação
A gafieira virou dança de salão

O que era praça virou shopping
A areia virou ringue
A caneta virou teclado
O long play virou CD

A fita de vídeo é DVD
O CD já é MP3
É um filho onde éramos seis
O álbum de fotos agora é mostrado por email

O namoro agora é virtual
A cantada virou torpedo
E do "não" não se tem medo
O break virou street

O samba, pagode
O carnaval de rua virou Sapucaí
O folclore brasileiro, halloween
O piano agora é teclado, também

O forró de sanfona ficou eletrônico
Fortificante não é mais Biotônico
Bicicleta virou Bis
Polícia e ladrão virou counter strike

Folhetins são novelas de TV
Fauna e flora a desaparecer
Lobato virou Paulo Coelho
Caetano virou um chato

Chico sumiu da FM e TV
Baby se converteu
RPM desapareceu
Elis ressuscitou em Maria Rita?
Gal virou fênix
Raul e Renato,
Cássia e Cazuza,
Lennon e Elvis,
Todos anjos
Agora só tocam lira...

A AIDS virou gripe
A bala antes encontrada agora é perdida
A violência está coisa maldita!

A maconha é calmante
O professor é agora o facilitador
As lições já não importam mais
A guerra superou a paz
E a sociedade ficou incapaz...

... De tudo.

Inclusive de notar essas diferenças

(L. F. Veríssimo)

terça-feira, maio 6

tinto

Foi culpa dele que trouxe o calor.
Ele aqueceu meu corpo
e coração,
que estava frio,
como o gelo que ali faltou
para resfriá-lo.
É, pensando assim, foi culpa da ausência do gelo.
O gelo esquentou, derreteu, escorreu.
Foi culpa dele que veio sem rótulo,
sem gosto, sem gelo.
Traga-no, agora, por favor,
em um cale-se.
Em um cale-se que, de tão cheio, chegue a transbordar.
Para que eu possa, nesse silêncio,
beber dele até embriagar-me.
Foi culpa dele que veio fermentando,
enchendo, esquentando, escorrendo.

quinta-feira, janeiro 24

Despindo a Alma, por Martha Medeiros

Em tempos de tantas mulheres posando nuas, talvez a verdadeira excitação esteja, hoje, em ver uma mulher se despir de verdade - emocionalmente.

Nudez pode ter um significado diferente.

Muito mais intenso é assistir a uma mulher desabotoar suas fantasias, suas dores, sua história. É erótico ver uma mulher que sorri, que chora, que vacila, que fica linda sendo sincera, que fica uma delícia sendo divertida, que deixa qualquer um maluco sendo inteligente.

Uma mulher que diz o que pensa o que sente e o que pretende, sem meias-verdades, sem esconder seus pequenos defeitos - aliás, deveríamos nos orgulhar de nossas falhas, é o que nos torna humanos, e não bonecas de porcelana.

Arrebatador é assistir ao desnudamento de uma mulher em quem sempre se poderá confiar, mesmo que vire ex, mesmo que saiba demais. Não é fácil tirar a roupa e ficar pendurada numa banca de jornal, mas, difícil por difícil, também é complicado abrir mão de pudores verbais, expor nossos segredos e insanidades, revelar nosso interior.

Mas é o que devemos continuar fazendo. Despir nossa alma e mostrar pra valer quem somos o que trazemos por dentro. Não conheço strip-tease mais sedutor.