quarta-feira, setembro 30

palavras que falam por mim

Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se trata de intuição, mas de simples infantilidade. Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. Há um perigo: se reflito demais, deixo de agir. E muitas vezes prova-se depois que eu deveria ter agido. Estou num impasse. Quero melhorar e não sei como. Sob o impacto de um impulso, já fiz bem a algumas pessoas. E, às vezes, ter sido impulsiva me machuca muito. E mais: Nem sempre os meus impulsos são de boa origem. Vêm, por exemplo, da cólera. Essa cólera às vezes deveria ser desprezada; outras, como me disse uma amiga a meu respeito, são: cólera sagrada. Às vezes minha bondade é fraqueza, às vezes ela é benéfica a alguém ou a mim mesma. Às vezes restringir o impulso me anula e me deprime, às vezes restringi-lo dá-me uma sensação de força interna. Que farei então? Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei.

(Clarice Lispector)

segunda-feira, setembro 28

ferida

Levei um tapa na cara com gosto e com força pra ali aprender que a ferida causada por ti dói mais do que a ferida que te causam.

segunda-feira, setembro 21

sobre os sentidos

Foi como se eu estivesse ausente e fora dos fatos que um dia passaram por mim. Esqueci ou ignorei? Não sei. Só tenho consciência que meu mundo parou e é preciso sacudir a poeira. Uns dirão que é bobagem. Outros, entenderão. Mas, da nossa dor, só a gente sabe. Entrei na montanha russa e fui do riso ao choro em segundos. O estômago trancado a relembrar as dores passadas. E eu aqui, transtornada, impotente, sem saber ordenar as imagens do silêncio, da ausência, dos apelidos, das bebedeiras, dos beijos, do que passou. Imagens que lembro com dor por saber que não tive espaço em nenhuma delas. Você diz que sim, que sempre fui a única. Você disse e diz, mas não provou. Volto ao parque e a vida vira roda-gigante. Todo mundo no mesmo eixo a girar. A montanha russa desce veloz, a roda-gigante sobe lentamente. E eu parada, de fora, olhando, sem entender, a doer. Através de palavras veio a dor. Palavras ditas em segredo e palavras publicadas em blogs para que todos pudessem ler. Para que leiam sobre o desejo que um outro olhar tem do que é meu. Palavras mentirosas que diz ser dela o que é meu. Nesse contexto, a relação de tempo e espaço não existe. Não adianta posicionar as datas, os lugares e os fatos. A dor do amor não tem dia e nem hora. Ela existe independente de tudo, independente do outro e até mesmo independente de você. Faço um grande esforço para não doer, pra ser racional, mas o amor é assim, é burro, é sofrido. Ouvi a vida toda Vinícius ao invés de Menudos. Meu amor sempre foi adulto, pessimista: "Todo amor só é bem grande se for triste" - aprendi. Eu gosto das amizades, gosto do chopp, gosto até do cigarro num dado instante. Gosto da vida em paz, mesmo me submetendo a comportamentos duvidosos. Gosto dos detalhes. Gosto do íntimo. Mas não gosto que falem de nada disso. Ainda que os amigos sejam amigos, as mulheres são mulheres e os beijos são beijos. Tudo que escapa a essa matemática, foge da cerca que separa o saudável do dolorido. É sempre hora de poupar a ternura e o verbo. É sempre tempo de mudar o foco e fazer um macro para que a fotografia tenha o tom do porto. Fazia tempo que doía, que o chopp descia e me enchia de vontade de arrancar de você esse silêncio que me matava e me fazia perguntar se foi, se não foi, por que é e por que não muda. As palavras vieram e agora ficarão aqui, feito registro em pedra. Mas não há culpadas. Nem eu, nem você e nem ela. Não há mágoas. Há só dor que eu sei que passa. Já tive outras e com elas aprendi que tudo passa. O bom e o ruim. Nesse momento, claro, tapo os ouvidos para não ouví-lo cantar "tristeza não tem fim. Felicidade, sim".

mãos

Quero essa mão em mim. Mão que carrega o elo materializado e dourado dessa loucura deliciosa que há 8 começamos. A segurar a minha no momento de prazer, que os dedos se contraem e ensaiam um nó. Quero o laço necessário que faz o medo sumir na hora de cruzar a ponte. Ai, a sua mão a percorrer o meu corpo e me faz arrepiar, ceder, deitar e amar. Mão de chiclete, como dizem. Mão que gruda na minha e me faz implorar que nunca ela tente tatear outra, que ela esqueça da textura das mãos que já tocou e lembre, queira, deseje somente a minha. Mão que cultiva o elo dourado na direita, mas que anseia por exibir por aí, para os olhares comemorativos e invejosos, o ouro na esquerda.

ouvidos

O teu som é melodia para os meus ouvidos. Se eu deito, ele vira canção de ninar. Me eleva e leva o amor aonde ele sempre merece estar. E se tu deitas ao meu lado ele vira máquina que seduz. Tua voz tem cheiro de prazer, de desejo, de querer, de posse. Tua voz chamando meu nome é música que tem o tom do querer. É música, é vento, é tom e melodia. Me chama que eu sigo sempre cantando esse querer que tenho por ti desde o 21 do mês primeiro.

nariz

Falar do teu cheiro e do prazer que ele me dá é redundante. Falar do cheiro da tua boca, do teu corpo e da tua alma faz com que eu os sinta perto de mim. Mesmo com alguns longos e muitos metros a nos separar. Quero te sentir e te cheirar até esse cheiro me penetrar e me embriagar. Quero te cheirar como droga, com dependência. Quero te cheirar até me sentir tua e sentir que te tenho sem passado, só com o presente a nos amar e o futuro a nos esperar. Quero o cheiro de coisa boa que você me prometeu nas noites de amor. Quero o cheiro de estarmos só, sem ninguém a te desejar. Quero o cheiro da certeza desse nosso amor, desse nosso querer. Quero a certeza, mesmo sabendo que a incerteza que brota sempre que ruídos aparecem é uma das coisas que mais me faz tua. Quero o teu nariz, tão afilado, a apontar o caminho que nos espera. Quero o teu nariz a tentar driblar o meu no momento do beijo. Beijo de seda com nariz de taboca.

boca

'Eu te amo'
'Eu também'
'Eu te quero'
'Eu te quero muito'
'Assim você me mata'
'Vem'
'Vou'
'Vamos'

Tantas palavras a circular o coração. Palavras que cheiram a riso e lágrima. Palavras que tranquilizam e envolvem. Palavras que, quando interrompidas pelo teu silêncio, encantam ainda mais. E, ansiosamente, faz a minha boca esperar pelo beijo teu. Beijo doce, delicado. Beijo que faz parar o tempo e me joga nos teus braços. Tua boca na minha, teu sorriso no meu, tua voz e a minha cantando em uníssono a nossa canção. Boca que enxerga o quanto o amor reserva as metades certas para juntá-las. Metade silêncio, metade palavras. Um só olhar. Um só amor.

olhos

Me dê a tua mão e deixe o meu peito transbordar de sossego. Eu te quero mais do que posso explicar. Essa imensidão de sentimento me inquieta. Logo eu, que "sozinha me bastava"... Mas me atrái. Fecho os olhos e vejo os teus na minha frente a me olhar. Olhar que penetra, que invade, que me desnuda. Olhar que me faz querer fechar os olhos pro mundo e pular de cabeça nessa água de amor, de desejo. Olhinhos puxados como do outro lado do mundo. Olhinhos que são gigantes, alucinantes. Meus olhos, minha janela, janela da minha alma.

domingo, setembro 20


passa a nuvem negra
e larga o dia
e vê se leva o mal
que me
arr a sou.