sábado, junho 14

volta, tempo.

só tenho a idéia de falar algo, quando a hora certa já passou. escuto sorrindo e, muitas vezes, fazendo parecer que não me importo, que não reparo, que não entendo. mas não. ali, fico cobrando de mim mesma respostas instantâneas. mas os instantes se desencontram nos caminhos confusos da minha cabeça. eu, que não sofro de ansiedade, vergonha ou medo, ainda assim, calo quando devo falar. simplesmente, porque as palavras me somem. ai, horas depois, dias depois, noites depois, me vem como inspiração tardia a palavra que me faltou. então, esse silêncio carregado da idéia que eu deveria ter tido naquela hora, com aquela pessoa, naquela situação, me tortura por remoer o que não foi.

volta, tempo.

sossega, coração, não desesperes

sossega, coração!
não desesperes!
talvez um dia, para além dos dias,
encontres o que queres porque o queres.
então, livre de falsas nostalgias,
atingirás a perfeição de seres.
mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
pobre esperança a de existir somente!
como quem passa a mão pelo cabelo
e em si mesmo se sente diferente,
como faz mal ao sonho o concebê-lo!
sossega, coração, contudo!
dorme!
o sossego não quer razão nem causa.
quer só a noite plácida e enorme,
a grande, universal, solene pausa
antes que tudo em tudo se transforme.




(fernando Pessoa)